No capítulo XV do Livro dos Médiuns, Allan Kardec
nos explica que de todas as formas de comunicação entre os encarnados
(espíritos no corpo físico) e o plano espiritual (os diversos mundos
espirituais onde residem os espíritos), a escrita manual dos espíritos
pela mão do médium é a mais simples, a mais cômoda, e sobretudo a mais
completa - A → Psicografia.
No referido capítulo, Kardec aconselha que “todos os esforços devem
ser feitos para o seu desenvolvimento, porque ela permite estabelecer
relações permanentes e regulares com os espíritos como os que mantemos
entre nós. Tanto mais devemos usá-la, quanto é por ela que os espíritos
revelam melhor a sua natureza e o grau de perfeição ou de sua
inferioridade. Pela facilidade com que podem exprimir-se, dão-nos a
conhecer os seus pensamentos íntimos se assim nos permitem aprecia-los e
julga-los em seu justo valor. Além disso, para o médium essa faculdade é
a mais suscetível de se desenvolver pelo exercício”.
Foi recebida por um médium, uma carta psicografada pela cantora Cássia Eller, em um renomado Centro Espírita - Lar de Frei Luiz - no bairro de
Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Segundo o presidente, Wilson Pinto, a mensagem
foi recebida na noite de 7 de maio de 2015, durante uma reunião de
dependência química:
"Não é a primeira desse tipo que recebemos.
Já recebemos do Chorão, do Cazuza... é verdadeira. O que não é de nosso
costume é a divulgação dessas psicografias, é um assunto interno da
casa, não deveria ter vazado" - ressaltou o presidente.
Na carta a cantora comenta sobre o que passou após o desencarne, no → Umbral (região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde vão os Espíritos que precisam pagar pelos seus atos encarnados) - Mostra os sacrifícios pelos quais precisou passar para evoluir e diluir todo o mal que cometeu em sua ultima vida terrena. Conta também sua experiência após a passagem pelo Umbral e os conhecimentos e ensinamentos que adquiriu após.
Vale a pena a leitura!
"Se eu disser para vocês que o inferno existe, acreditem, pois eu
estava mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço sombrio e frio, bem
interno do ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem descanso e
afogava-me, a cada segundo, num oceano de matéria viscosa que roubava
até minha ilusória alegria… Naquele lugar não havia luz, somente nuvens
cinza e chuvas com raios e trovões, gritos estridentes e desesperados,
gemidos surdos, pedidos de socorro, lágrimas, desalento, tristeza e
revolta…
Preciso descrever mais as cenas dantescas de animais que
nos mastigavam e, em seguida, nos devoravam sem consumir nossos corpos;
se é que posso dizer que aquilo, que sobrou de mim, era um corpo humano.
queria fugir para bem longe dali, mas tudo em vão, quanto mais me
debatia no fluido grudento, mais me afundava e, quando alcançava, de
novo, a superfície apavorante, mãos e garras afiadas faziam-me submergir
naquele líquido pastoso e mal cheiroso.
Dragões lançavam chamas
de suas bocas sujas e nos queimavam, machucando e estilhaçando a pouca
consciência que me restava da lembrança de minha estada no corpo físico,
neste planeta azul. Guardiões das trevas olhavam atentos seus presos e
vigiavam todos os movimentos realizados naquele imenso espaço de
sofrimentos, dores, lamentos, depressões, angústias e arrependimentos
tardios… O ar era ácido e provocava convulsões diversas.
Perguntava-me
porque ali estava se nada fizera por merecer tão infeliz destino,
depois de ser expulsa do corpo de carne através do uso maciço de drogas.
A dúvida assaltava-me os raros momentos de raciocínio menos
desequilibrado e as crises de abstinência trancavam todas as portas que
dariam acesso à saída daquele campo de penitência de espíritos rebeldes e
viciados com eu.
Os filmes de horror que assisti, quando
encarnada, estariam ainda muito distantes dos padecimentos, pânicos,
pavores e temores que ficariam para sempre registrados na minha memória
mental, os piores dias que vivi até hoje, como joguete e marionete de
forças que me escravizavam o ser, debilitado, fraco, desprovido de
energias, suja, carente e chorosa.
Não me lembrava do que
acontecera comigo… Quando o medo é maior que as necessidades básicas, a
mente fica encarcerada num labirinto hipnótico e “torporizante” de
emoções truncadas e desconectadas da realidade… Assemelha-se a um
pesadelo sem fim, sempre com final trágico e apavorante. Quando
conseguia conciliar um pequeno tempo de sono; era imediatamente desperta
por seres que me insultavam e xingavam, acusavam-me de suicida maldita e
jogavam-me lama misturada com pedras… Insetos e anfíbios ajudavam a
traçar o perfil horrendo dos anos que passei no umbral. Preciso escrever
estas palavras para nunca mais me esquecer: “Com o fenômeno da morte,
nós não vamos para o umbral, nós já estamos no umbral quando tentamos
forjar as leis maiores da criação com nossas más intenções e tendências
viciantes”.
Tudo fica registrado num diário mental que traça nosso
destino futuro, no bem ou no mal. O umbral não fora criado por Deus;
ele é de autoria dos espíritos que necessitam de um autêntico e genuíno
estágio educativo em zonas inferiores, onde poderão se depurar de suas
construções aleijadas no campo dos sentimentos e dos pensamentos
disformes, mal estruturados e mal conduzidos por nossa
irresponsabilidade, de mãos dadas com a imensa ignorância que nos faz
seres infelizes e distantes da tão sonhada paz de consciência.
Após
alguns anos umbralinos, despertei numa tarde serena, num campo
verdejante e calmo. Não acreditava no que via, pois tudo, agora, parecia
um sonho… Percebi, ao longe, o canto de uma ave que insistia em
acordar-me daquele pesadelo no qual já me acostumava a viver; a morrer
todos os dias… Seu canto era uma música que apaziguava meu coração e
aguçava meus pensamentos na lembrança de como fui parar ali naquele
campo gramado e repleto de árvores. Consegui sentar-me na relva e ao
olhar todo aquele espaço natural, deparei-me com milhares de outros
seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral, usufruindo,
agora, de um bem que não merecia, mas vivia!
Todos nós dormíamos e
fomos despertos com música e preces em favor de todos os presentes…
A
maioria era de jovens e adultos, poucos idosos e centenas de
enfermeiros que olhavam atentos para nossos movimentos no gramado. Com
seus olhos serenos, projetavam em nós a mansidão e a paz tão esperadas
por nossos corações enfermos, débeis e carentes de atenção, de afeto e
carinho.
Alguém me tocava, de leve, os ombros e chamava-me pelo
nome, como se me conhecesse há muito tempo. Eu identifiquei aquela voz e
“temia” olhar para trás e confirmar minha impressão auditiva, era
Cazuza todo de branco, como lindo enfermeiro, de cabelos cortados bem
curtos e estendia suas mãos para que eu levantasse, caminhasse e
conversasse um pouco em sua companhia. Não consegui me levantar, porque
uma enxurrada de lágrimas vertia dos meus olhos, como nascente de rio
descendo a montanha das dores que trazia no peito. Meu ídolo ali estava
resgatando e cuidando de sua fã, debilitada e muito carente. Ele cantou
pequena canção e tive a capacidade de avaliar o que Deus havia reservado
para aqueles que feriam suas leis e buscavam consolo entre erros
escabrosos e desconcertantes.
A misericórdia divina sempre
conspira a nosso favor, nós desdenhamos do amor divino com nossas
desatenções e desequilíbrios das emoções comprometedoras, que arranham e
esmagam as mais puras sementes depositadas no ser imortal. aprendi
palavras boas!
Somente agora enxergo que sou espírito e que a vida
continua e precisa seguir o curso natural das existências, como na
roda-gigante: hora estamos aqui no alto; hora estamos aí embaixo
encarnados. Daqui de cima, parece ser mais fácil compreender porque
temos de respeitar as leis e descer num corpo físico para, igualmente,
quando aí estivermos, conquistarmos, pelo trabalho no bem, a lucidez que
explica porque há a reencarnação, filha da justiça divina.
Após
um tempo no campo reconfortante, fui reconduzida para um hospital onde
me recupero até hoje dos traumas e cicatrizes que criei no corpo do
perispírito. As lesões que provoquei foram muito graves, passei por
várias cirurgias espirituais e soube que minha próxima encarnação será
dolorosa e expiarei asma, deficiência mental e tuberculose.
Mesmo assim,
estou reunindo forças para estudar, pois sempre guardamos, no
inconsciente, todos os aprendizados conquistados. Reencarnarei numa
comunidade carente no interior do Brasil e passarei por muitos reveses,
para despertar em mim o valor da vida do espírito na pobreza e na doença
crônica. Peço orações e a caridade dos corações que já sabem o que
fazem e para onde desejam chegar. Invistam suas forças e energias
espirituais em trabalhos de auxílio ao próximo e serão, naturalmente,
felizes.
Obrigada por me aceitarem como necessitada que sou!"
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